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Piratubense se destaca como uma das maiores pintoras do Brasil

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Apesar de ter começado a pintar na fase adulta, ela não demorou para se destacar como uma das maiores revelações da arte conhecida como “naïf” do cenário nacional. Nascida em Piratuba, em Zonalta, Tercília dos Santos já promoveu exposições internacionais e é um dos grandes destaques da Bienal Brasileira de Arte Naïf, realizada anualmente em Piracicaba (SP). A piratubense é referência no mundo artístico, mas ainda pouco conhecida na própria cidade.

Tercília nasceu em 1953 e passou toda a infância no interior de Piratuba. Ao lado das cinco irmãs, trabalhava na roça e vivia sob os cuidados rígidos do pai. “Ele era muito rigoroso, nos segurava em casa, não deixava sair nem nos vizinhos, mas também não tínhamos muito tempo para passear”, diz. A artista estudou na comunidade, andava três quilômetros na ida e três na volta todos os dias, motivada pela vontade de aprender.

Aos poucos, as irmãs de Tercília começaram a deixar Piratuba em busca de melhores condições de trabalho. Não demorou muito para que a artista resolvesse sair da cidade também. Primeiro foi para Caçador e depois Florianópolis, onde mora até hoje. Na capital, Tercília fez curso de manicure e se destacou entre as clientes. “Gosto de fazer tudo bem feito, herdei isso do meu pai. As clientes comentavam: alguém pode fazer igual a você, mas não melhor”, lembra.

O despertar para o mundo da pintura aconteceu tarde, quando ela já tinha cerca de 30 anos, e foi quase uma “vontade divina”. Certo dia, Tercília, que é muito religiosa, sonhou com Jesus Cristo. “Ele me mostrava algumas cenas, inclusive um quadro muito bonito, abriu um sorriso enorme para mim. Quando acordei, eu era artista”, conta, emocionada.

Na mesma época, Tercília recebeu outras “dicas” de que devia se dedicar à arte. Uma cliente foi embora de Florianópolis e a presenteou com um quadro. A piratubense carregou o objeto nos braços até em casa, mas quando passou em frente à residência de uma senhora espírita, ouviu: “você não precisa ter os quadros dos outros, pode ter os seus”. Tercília argumentou que isso não seria possível. “Falei que precisava fazer curso para aprender, não tinha tempo. Ela disse que eu não precisava, estava recebendo intuição para pintar, mas não dei muita atenção”, explica.

Autodidata e dedicada

Com esses dois indícios, não deu outra: mesmo insegura, Tercília decidiu que precisava pintar. “Fui numa loja, comprei as cores básicas de tinta, pincel e uma tela, e comecei a pintar uma cena que vi nos meus sonhos. Era tudo muito colorido, sendo que sempre fui muito discreta”, conta. Ela até tentou fazer cópias de outros artistas ou utilizar cores mais suaves, mas os quadros sempre acabavam coloridos e cheios de vida.

O que Tercília estava fazendo, entretanto na época não sabia, é conhecido como pintura naïf, quando um artista autodidata desenvolve a própria linguagem de forma espontânea, sem seguir regras acadêmicas. No caso da piratubense, ela criou um estilo marcante, com telas cheias de cor, retratando paisagens rurais, muito presentes na sua infância em Piratuba.

Tercília participou de cursos de pintura e dedicou muitos finais de semana a finalizar telas, até que conquistou sua primeira exposição, em um restaurante do centro de Florianópolis. Nem todos entenderam a artista na estreia. “Os comentários foram dos mais diversos: isso é criança que pinta? Um adulto pinta assim?”, lembra. Mas Tercília nunca deixou as críticas a abalarem. “Primeiro, porque quem me ensinou foi Jesus, quem vai dizer que está errado?”, explica.

De Piratuba para o mundo

A primeira exposição despertou o olhar dos críticos para a obra de Tercília. Ela foi convidada para realizar outra mostra, foi considerada “uma artista primitiva excelente”. “Eu não liguei muito, como manicure, tinha várias clientes para atender, mas 10 dias depois recebi vários convites para distribuir, saiu até matéria em jornal sobre a exposição”, fala.

Desde então, Tercília não parou. Em 1992, foi selecionada para a Bienal Brasileira de Arte Naïf, um dos maiores eventos do gênero no país. Participou de quase todas as edições seguintes, sendo inclusive premiada em 1994 e 1998. A artista também esteve em projetos do SESC, realizando palestras sobre arte em escolas do estado.

O reconhecimento internacional não demorou a chegar. Em 2006, foi a única catarinense selecionada para uma mostra no Centro Cultural de Chicago. Já expôs quadros em países como Suíça, Itália e Canadá. Em Santa Catarina, Tercília foi reconhecida pela Academia Catarinense de Letras pelo conjunto da obra.

Ainda que seja uma das maiores artistas do gênero da atualidade, Tercília ainda é pouco conhecida pelos moradores de Piratuba. “No Rio de Janeiro, São Paulo, sabem quem sou, mas na minha cidade não e os críticos comentam que minha arte poderia ser mais valorizada, por que eles se perguntam: será que algum dia terá outra Tercília?”, ressalta. Para divulgar o catálogo da piratubense, materiais didáticos serão distribuídos nas escolas catarinenses nos próximos dias.

Atualmente, Tercília está em cartaz no Centro Integrado de Cultura de Florianópolis, com a exposição “A herança negra na cultura brasileira”. A mostra segue aberta até o dia 16 de junho e tem feito sucesso. “Está sendo muito elogiada, tem até monitores! Agora me preparo para fazer um trabalho nas escolas e seguir divulgando a arte naïf”, finaliza. A piratubense não para por aí: ainda neste ano ela vai participar de uma exposição em Brasília, num intercâmbio entre Brasil e Cuba.

Fonte: Pâmela Schreiner / Jornal Comunidade



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