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A Batalha

A Batalha

O acampamento rebelde rezava – e sonhava – quando foi atacado. José Maria imediatamente destacou diversos grupos de sertanejos para os capões de mato que cercavam o local. No “Quadro-Santo” (o centro do reduto, o coração da cidadela), deixou o grosso da tropa preparada para qualquer eventualidade.

João Gualberto, ao perceber que os matos ao redor estavam cheios de caboclos, começou a gritar para “estender linha” e “assentar ferros”.

Mas a metralhadora engasgava e não cuspia fogo…

A cena toda deve ter durado alguns minutos, porque logo os piquetes da cavalaria rebelde entrariam em ação. À frente deles vinha (como um possesso) o próprio José Maria, dando gritos medonhos de “Viva São João Maria”!” Vida a liberdade!”” Viva a coroa do céu”! e “Viva a coroa do Império!”

O coronel João Gualberto (que, diga-se de passagem, era um bravo, a morrer de armas na mão) fica encurralado entre o matagal da esquerda, o itaimbé da direita e o banhado detrás.

Endemoniados, os jagunços combatem de arma nobre (arma branca) – facões de aço e porretes de três quinas – e assumem a ofensiva. No corpo a corpo, os fuzis levam desvantagem para os pontaços, e a soldadesca começa a debandar, entre gritos apavorantes.

João Gualberto, ele próprio, cai do cavalo – que alguém lhe rouba para fugir – e é retalhado no aço da caboclada.

Mas também João Maria, reconhecido pelo seu gorro de pele de onça, arroja frente ao pó chumbado.

Terminada a refrega, treze soldados e um alferes estavam mortos no tremendal. A metralhadora, quarenta fuzis e mais de três mil balas caem nas mãos dos rebeldes, dentre os  quais haviam se destacado os homens do caudilho gaúcho Miguel Fragoso,  que, no entanto, não participou pessoalmente do combate.

Depois da vitória, a caboclada se dispersou dissimuladamente.

Novas forças, vindas do Paraná, deram uma varejada no terreno, mas inexperientes – nada encontrava, e deram o episódio por encerrado. Embora (na verdade), tudo estivesse apenas começando.

Pareciam até uma triste música de fundo, para acompanhar o barulho surdo do incêndio que começava a crepitar – a estalar – nos sertões do planalto em chamas.

Livro A Sangrenta Guerra do Contestado – Jornalista Paulo Ramos Derengoski

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🕐 junho 14, 2025 08:38